domingo, 26 de junho de 2011

Reflexão para férias

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UMA AUDIÊNCIA COM O PRÓPRIO EU

Um amigo muito querido andava atarefadíssimo. Atendia, no mínimo, umas trinta pessoas por dia e acabava, é claro, não atendendo bem a ninguém.

Tratava, durante o dia, de uns quinze ou vinte negócios diferentes. Deslocava-se através de uns cinco lugares. Além de rede interna de telefone, tinha na mesa de trabalho três telefones externos, sendo que, não raro, os três chamavam ao mesmo tempo…

Telefonei a ele, pedindo uma audiência. Precisava de um encontro. Ele marcou imediatamente. Expliquei que não era para mim. Perguntou-me para quem era e levou um enorme susto quando eu disse: o encontro é de você com você!

Pensou, ao princípio, que eu estivesse brincando. Assustou-se quando eu disse: Você não sente. Mas esta correria sua esconde, sem você notar, um medo de encontra-se consigo mesmo…

Sabem que isto de medo de encontrar-se consigo mesmo é mais comum do que a gente imagina? Mesmo quem vai fazer retiro facilmente se embebe com as meditações do pregador ou com trechos de um livro esplêndido que levou para ler…

Cadê coragem para contemplar a própria vida; ver, por dentro, o coração; sentir de perto os pensamentos, os anseios, os sonhos, o rumo geral da caminhada? …

Tenho vis pessoas que parecem dinâmicas, decididas, fortes, sabendo pensar, sabendo querer, mas, na hora de pensar em si, de olhar até ao íntimo do íntimo, mil pretextos surgem, mal escondendo o meio pavor ou o pavor e meio de olhar de cheio o próprio eu …

Note-se que não alimento, de modo algum, que se gaste tempo excessivo em virar e revirar o próprio eu…

Mas entre o exagero de gastar horas, dias, meses, anos em total virada interior e o exagero de fugir de um encontro consigo, nem vacilo me desejar que, ao menos, umas tantas vezes na vida, haja audiência com o seu próprio eu.

Quando notar que anda mais que enchendo, atravancando a vida; quando perceber que o seu dia é atropelo, correria sem vagar para nada e para ninguém; quando as vinte e quatro horas não bastarem e andar precisando de mais doze suplementares¸ quando se surpreender irritadiço, meio eléctrico, dando choque, soltando faísca, trate com urgência de marcar um bom encontro consigo! É mais do que tempo! É mais do que hora!

D. Helder Câmara

Saudações académicas e votos de boas férias para todos!
António M. de Carvalho

2 comentários:

Linoi disse...

Muito obrigado ao colega Carvalho por trazer até nós as palavras sabias de D.Heldes da Camara,que nos fazem meditar se vale a pena andar a correr sem tempo para olhar o que se passa à nossa volta.Ler, meditar e por em prática é o que se exige a todos nós, porque palavras levas o vento.Saudações académicas do colega Lino Lourenço.

Leonor Pina disse...

Obrigado por esta publicação,ela fez-me ver a realidade
Boas Férias.

"Natureza e Bem-estar" no Horto do Amor